sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Voltei para o prédio antes do previsto. Não me agradava a idéia de deixá-lo sozinho por muito tempo. Forcei a maçaneta e abri a porta, na parede paralela havia uma grande janela na qual ele se encontrava de pernas para fora do apartamento.
Do ângulo em que eu estava podia ver as costas de sua camisa vermelha de flanela, seus cabelos na altura dos ombros, levemente emaranhados e sujos. Dei dois passos hesitantes, receoso de que qualquer movimento meu o fizesse se deixar cair. Meus olhos corriam de um lado para outro do cômodo esperando encontrar uma razão para a peculiaridade da cena.
-O que você está fazendo?
Recebi silêncio em resposta, o que só fazia recrudescer a angústia; músculos petrificados me mantinham na mesma posição. Virou-se lentamente, pôs as pernas para dentro do cômodo a sacudir, para frente, para trás e para frente de novo, semelhante a uma criança entediada. Recostou a cabeça em um dos lados da janela e sorriu pra mim. Parecia limpo; parte de seu rosto oculta pela luz forte do sol, o que intensificava o azul de seus olhos. Rumei para perto da janela, ainda com um quê de receio.
- Você não me respondeu.
- ‘Tava só sentindo o vento no rosto. – fez uma pausa melancólica e voltou a olhar a rua- vendo o céu, o sol, a cidade. Quando eu ‘to sozinho costumo fazer isso. Tenho essa janela como o topo do mundo. Me sinto acima de tudo que é ruim.

Desceu da janela, e então foi meu momento de contemplação . Debrucei-me sobre o peitoril e fiquei a olhar para fora. O crepúsculo emprestava um alaranjado que dourava as nuvens fofas no horizonte. Alguns telhados coloridos entre o vasto concreto. Fileiras de carros luziam formando um grande cordão de ouro pela estrada. Seus braços circundaram minha cintura, apoiou o queixo no meu ombro.
- Eu sei o que você pensou quando entrou aqui. - acariciei suas mãos cruzadas na altura do meu abdômen - Tira isso da cabeça. Eu nunca vou te deixar.

De fato, ali era o topo do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário